quinta-feira, 2 de junho de 2022

DE DEFUNTOS E COVAS

Ao ler (depois de 16 anos sem ler esse cidadão), o artigo de Josias de Souza, de hoje, no Uol, “Com a mão na alça do caixão do PSDB, Lula causa furor ao narrar o enterro”, uma constatação: o PSDB acabou.

Em 1986, atendendo a um convite de meu amigo, ex-professor e então vereador João Alves dos Santos, o João Patola, ingressei no PDT que João estava assumindo municipalmente em Itabaiana.
Havia então um troca-troca partidário automático: entrou num partido, automaticamente estava desfiliado de outro; e usei isso para me desvincular do diretório local do PT, com o qual havia me estranhado profundamente; e que havia ajudado a fundar e ser o primeiro presidente eleito, que o fui em 16 de agosto de 1981 até 1983, apesar de afastado em setembro de 1982 e substituído pelo vice, José Taurino Duarte.
Mas em 1988 havia outra novidade no ar: com os trabalhos de finalização da Constituição, e consequente quebra de amarras partidárias vieram as rearrumações políticas com a fundação do PSDB por Mário Covas.
Covas me animava mais que Brizola, criador do PDT. Polemista por natureza, não me agradava o estilo Brizola. Sempre o achei necessário, importante no contexto político nacional; o tempero exato para apimentar os grandes debates nacionais. Mas, quanto a desejá-lo como líder máximo da nação sempre tive minhas reservas; e Covas, também polemista, mas, se situava, a meu ver, naquele espectro do líder político vivo, real, sério no que a política exige, verdadeiro. Alguém com sangue nas veias; porém, um cérebro a lhe controlar o fluxo.
O então colega de rádio, deputado federal Acival Gomes trouxe a novidade para Sergipe. E, oportunista como todo o itabaianense laborioso e inteligente, pretendente a entrar na política, Paulo de Mendonça – também depois radialista – mediante Acival Gomes trouxe o partido para Itabaiana, claro como presidente do diretório municipal e me convidando para ser o secretário. Topei.
Paulo, porém, estava alinhado majoritariamente com o grupo político de Francisco Teles de Mendonça, enquanto eu estava ligado a Luciano Bispo que seria então eleito prefeito. O fato é que apenas fundamos o partido aqui em Itabaiana; mas nunca militei propriamente nele.
Estadualmente o PSDB só veio a ter real visibilidade com Albano Franco, em quem não votei: estive nos palanques com Luciano Bispo, Jackson Barreto e Lula naquela memorável campanha de 1994; e, sem palanque e apenas votando em Lula em 1998, na hecatombe do eletrocheque, quando em Sergipe se entregou a Energipe e a Telergipe aos especuladores, eufemisticamente chamados de investidores, empreendedores financistas sem pátria. Foi meu desencanto final com o partido, apesar de ainda ter o Mário Covas como referência.
Nacionalmente, o PSDB perdeu o brilho em setembro de 1991, no episódio vergonhoso de FHC, Serra e Richa querendo entrar de qualquer jeito no Governo Collor, bloqueados pela ação enérgica de Covas.
Em 1994 o partido apresentou o ex-comunista (à brasileira, claro) FHC, como sucessor do mineiro Itamar Franco, depois de terem enxotado Fernando Collor de Melo, já sem Rede Globo, sem partido normal, apenas um arremedo, e sequer sem um partido militar-evangélico, como ora ocorre. Sem nada. O PSDB tinha chegado ao apogeu. Era o coroamento do império paulistista que o partido nunca deixou de ser.
Entre 1988 e 1994 sonhei em ter no Brasil a avassaladora dualidade partidária que, bem ou mal tem dado estabilidade política àquela confusa empresa em forma de federação, denominada Estados Unidos da América por mais de dois séculos: os partidos Republicano e Democrata. Que aqui seriam o direitista PSDB e o centrista PT. Mas o PDSB é um partido de São Paulo, com alguns puxadinhos em outros estados, e só. E, por natureza, mesmo numa federação à brasileira, isso é impossível de dar certo. Brasília e Washington não existem à toa. São capitais federais e não estaduais, como foi Salvador até mudar para o Rio, e lá continuou sendo até mudar para Brasília; imagine São Paulo, Recife ou Porto Alegre como o centro de decisões nacionais, como de fato é no que consiste São Paulo capital na atualidade.
A indisposição de Aécio Neves, mineiro, em sair do casulo sulista e fazer política como se deve foi a pá de cal em 2014. No PSDB e quase no país.
O PSDB tem de morrer - como teve a UDN - para que restem o Brasil, e nele São Paulo.