quarta-feira, 19 de novembro de 2025

50 ANOS DE UM RENASCER

 

A possante ponte, sobre o histórico rio Vaza-Barris, inaugurada em 1975, marcou o reatamento entre os dois municípios sergipanos mais antigos, depois de São Cristóvão: Itabaiana e Lagarto; mas não só isso, como também refez, no trajeto sul, a antiquíssima estrada colonial Salvador-Olinda. Ou estradas das boiadas, dos primeiros 50 anos de Sergipe, ainda no nascer do Brasil.

Ignorando completamente uma matéria recém descoberta na edição 228, do jornal itabaianense, “O Serrano”, de 8 de março de 1975, sempre tive que a SE-170, entre Itabaiana e Lagarto teria sido aberta com seu asfaltamento em 1980. Ledo engano. Como a maioria das obras estruturantes e de desinteresse dos mais poderosos, a estrada de rodagem, com alguma diferença em seu curso, foi inaugurada em 5 de março de 1975, uma quarta-feira, dois dias depois da minha mudança para a cidade para estudar, de onde não mais retornei à zona rural, minha origem.

Prejuízos que a falta ou deficiência da história, escrita, obviamente, sempre produz.

Portanto, há 50 anos, feitos em março, ao menos relativamente ao trajeto do Caminho de Sertão ou estrada colonial Salvador Olinda, sentido Itabaiana-Salvador voltou a ser totalmente operacional. Mesmo que ainda hoje tenha certas limitações entre Itabaiana e Itapicuru, já na Bahia.

O mapa de 1825 confirma o escrito por D. Marcos Antônio de Souza, em suas "Memórias sobre a Capitania de Sergipe", de 1808, sobre a antiga estrada colonial Salvador-Olinda ou das Boiadas já ter sido em parte abandonada; e seu trajeto, em parte, "por terrenos particulares". Detalhe em vermelho.

A estrada colonial foi aberta assim que se consolidou a Conquista de Sergipe, em 1590. Ela foi trajeto preferencial de missionários, principalmente jesuítas, e de transporte da nascente economia sergipano, especialmente boiadas, até 1700. Mas ao romper o século XVIII e a descoberta de ouro em Minas Gerais, todo o Nordeste tomou um baque. E o gado de Itabaiana e de todo o interior de Sergipe perdeu completamente a importância, levando a estrada ao desuso. Em 1800 já quase não mais existia, exceto em trechos. Entre Itabaiana e Lagarto se passou a usar a alternativa pelo povoado Ribeira.

Um dos trechos que se manteve em uso todo o tempo foi entre a cidade de Itabaiana e seu povoado Campo do Brito, o velho, até 1845.

Dois trechos do novo trajeto, já por volta de 1800: Estrada de Itabaiana para o povoado Ribeira, passando por pedreira, originária da escavações holandesas. em 1640, atrás de prata; e, sua sequência até Lagarto, na passagem pelo rio Vaza-Barris, logo abaixo da foz do rio das Pedras nesse, no local conhecido como Barra de Santo Antônio.

Com a instalação da matriz de Nossa Senhora da Boa Hora, em 1845, no local onde passou a ser a futura cidade, novo caminho passou a existir desde Itabaiana, identificável hoje pelo popular nome de Rua da Caixa d’Água. Só até Campo do Brito, a nova.

Em 1937, noutro trajeto, veio a estrada de rodagem. Até a cidade de Campo do Brito. Informações ora recuperadas, mostram, no entanto que em 1975 o velho trajeto de uma das mais antigas estradas do Brasil foi refeito, integralmente. O que houve cinco anos depois, em 1980, foi mais um trajeto, a atual, SE-170, asfaltada, que segue numa linha reta até cruzar com a rodagem, hoje acesso a São Domingos.

Se a estrada de rodagem para Campo do Brito, de 1937, tivesse sido até Lagarto, talvez a era do caminhão talvez tivesse chegado vinte anos antes; ainda com seu criador, o comerciante, músico, compositor, maestro e político, deputado Esperidião Noronha. Coube a Euclides Paes Mendonça, seu sucessor partidário implementá-la, por outra rota: a dos sertões do Jeremoabo, depois de 1954, quando a BR-235 chegou àquela cidade.

Mesmo que não tenha merecido a devida atenção até os dias de hoje, mas a ideia começada sob o governo Paulo Barreto de Menezes, e só inaugurada por Augusto Franco começou a devolver a Itabaiana sua ligação direta com a primeira capital do país.