sábado, 8 de setembro de 2007

Bebida é água; comida é pasto. Você tem sede de quê?

Já não se faz Sete de Setembro como antigamente. Os saudosistas e inconformados sempre usam esta frase. Bem, mas eu, particularmente não encontrei ontem, Dia Magno da pátria o fervor dos meus tempos de adolescente. Em parte porque nunca fomos tão estrangeiros; em parte porque com o passar dos anos a tal da maturidade nos tira o brilho da esperança, e com esta perda, nos remete à nossa condição de meras pequenas partículas no universo. Ontem no desfile do sete de setembro, desde que ao fim dos anos 70 o dito foi transferido para a avenida nova – atualmente já não tão nova assim – somente este ano é que o percurso foi invertido. Ao invés do palanque armado em frente à centenária, mesmo que de arquitetura singela, matriz de Santo Antonio; ou perto do posto da Previdência Social como ali ficou desde 1989, foi o dito palanque das autoridades mudado para proximidades do riacho que outrora separava a cidade do então povoado Marianga, próximo ao Hospital Dr. Pedro Garcia Moreno Filho.
As alegorias, mesmo sem o aquele quê de Maria Branquinha dos anos 60 aos 80, ainda se fazem presentes. Ponto este ano para o Grupo Escolar Eduardo Silveira.
O povo, mais do que nunca continua a acorrer à avenida, talvez até por completa falta de algo para se divertir neste feriado imprensado. Imprensado porque véspera de feira na cidade. Ato esse imperdível para boa parte daqueles que vivem de repetir seus ancestrais desde os tempos dos Algarves, da Galícia e da Andaluzia a até as feirinhas dos povoados coloniais brasileiros dos séculos XVIII e XIX. O itabaianense é a feira. Por outro lado, os mais aquinhoados e que independem da velha arte mourisco-cigana do pequeno comércio desde a quinta que desceram a serra em busca da praia, especialmente da capital e até de outros Estados. Já para os que ficaram, como vem ocorrendo de há muito, resta o desfile ou o péssimo hábito de se entocar nos inúmeros bares, ligar o som particular de música de péssimo gosto para entupir-se de bebida e entupir os ouvidos alheios de excremento sonoro. Não temos uma política de diversão pública, muito menos de lazer.
Ao fim dos setenta um conhecido personagem da cidade montou uma peça teatral e foi pedir patrocínio a um outro que já vivia na capital e que exercia o maior mecenato que Itabaiana já viu, mesmo que de vez em quando sob impropérios. O dito patrocinador foi incisivo: “Itabaiana só gosta de futebol, circo e filmes de caratê’. De fato os dois cinemas então existentes entupiam de gente quando havia filme de caratê em cartaz. O futebol era a glória do município e os circos não tinham do que se queixar em termos de bilheteria. Hoje mudou. Bandas cujo estilo musical tem gosto pra lá de duvidoso fazem o maior sucesso, desde que saiam no Domingão do Faustão. No mais os bares e sua poluição sonora completa o cenário da desolação. Pra não ficarmos apenas em lamentos a velha Filarmônica Nossa Senhora da Conceição resiste e até anda incrementada, todavia, pela própria forma de ser - a de uma arte mais refinada - está ela fadada a ser confundida com qualquer bandinha dita de forró ou preencher a muito poucos.
Os cordões de gente que presenciei ontem acorrendo por entre todas as vias que dão acesso à principal avenida de nossa cidade para assistir um desfile pra lá de pouco criativo, no mínimo, demonstra que o povo que seguramente mais trabalha no interior de Sergipe tem necessidade de lazer. E isso só pode propiciado por coordenação pública haja vista a indústria dita cultural ter destruído tudo – e isso não ocorreu somente aqui – que servia como lazer natural do povo; ou seja, sua cultura com seus folguedos.