quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Os números.

Meu Deus!
Não pelo que é, mas pelo que representa o candidato, a eleição de João Alves Filho será a pá de cal em Sergipe. E, perdoem-me os que acreditam em milagres: eu acredito nos números que vi(aqui). E aí eu me pergunto: o que foi que eu fiz de errado pra merecer tal castigo? Ver meu Estado eternamente estagnado, volvendo-se cada vez mais para ser de novo um pedaço da Bahia?
Por quê? Se a terceira administração de João Alves já foi um desastre, imagina o que ocorrerá na quarta. E ela virá. Assim o PT sergipano o quis. Deda o quis. Voltarão todos os CCs que atrofiaram a máquina (e serão incrementados os inúmeros que se mantiveram) na gestão João Alves; todos os vícios e todos os privilégios de uma elite que não suporta o “Negão”, mas adora a certeza da vitória – e manutenção de privilégios absurdos - que ele transpira. Albano não sairá do bloco; e os aliados atuais do governo Deda se perfilarão dentre: os que extrairão até a última gota das benesses do poder, porém já em negociações com o outro lado; os que se sentirão “traídos” já a partir de março e pularão ou reassumirão; os sonhadores porras-loucas que acham que o estado deve ser stalinista, e deve ser implantado na marra; e os malandros esquerdóides - os quiabos - que buscarão se manter por cima da carne seca de algum modo. E eis o fim de uma tentativa de fazer algo de novo nesse Estado que luta desde 1641 pra existir:

“Porque damos Sergipe, tão célebre tratado, hoje é nada, e nunca foi tão grande cousa como se imagina.” (*)

Ou, “Ninguém quer a Independência; senão os que estão no governo ou nele queiram entrar, taverneiros e donos das casas da Cidade, pois que sejam quais forem as vantagens que se digam da independência, elas não pagam nem a metade das liberdades que se perdem.” (**)

Os números estão dentro da realidade, e mais: não há nada que os revertam com limites de segurança doravante. O máximo que o Governador poderá conseguir é reduzir a vantagem de João e chegar às eleições em situação de empate técnico. O que em Sergipe tem significado de derrota para quem está com o governo nas mãos. Uma vitória medíocre para um governo medíocre, em que pese aparentar ter melhorado a segurança nos últimos meses. No mínimo, caso ganhe, terá sérios problemas já ao início da administração, já que se trata de um grupo político sem lastro na velha escravocracia burocrático-canavieira sergipana disseminada pelos vários setores da vida pública e social da velha Província, especialmente na Justiça.
Por outro lado, em ganhando João, não será mais o ex-prefeito de Aracaju – ou o João da água - quem irá assumir; e sim o porta-voz de um sistema que tem em Zuleido Veras e Daniel Dantas seus expoentes.
E Serra, ou qualquer candidato da neo-UDN (o PSDB), ganhará para presidente em Sergipe e em Itabaiana, em que pese perder no país como um todo. Aqui a esperteza é tanta, que até tendências consolidadas demoram uma eternidade para acontecer, haja vista os atores da política sergipana e itabaianense esperarem até a últimíssima gota. Tipo Albano Franco. Em 1930, era o mundo lá fora se despedaçando em relação ao velho e corrupto conluio da República Velha e aqui em Sergipe todo mundo quieto. Em Itabaiana, apenas Silvio Teixeira, conhecedor da realidade na Capital federal, foi desde o princípio o fervoroso partidário de Vargas.
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(*) Padre Antonio Vieira justificando a cessão de direitos aos holandeses sobre Sergipe nas negociações de armistício entre Portugal e Holanda, e pela neutralidade desta à restauração de sua Independência do domínio espanhol.
(**) Coronel José Nabuco de Araújo da Santa Luzia do Itanhy em carta a Carlos Burlamaqui, primeiro governante depois da restauração da Independência de Sergipe, em 1821, obra dos vaqueiros itabaianenses com ajuda dos lagartenses. O mesmo era porta-voz de seu grupo que dentre eles havia Jose de Barros Pimentel, ascendente de Albano Franco, os Rabelo Leite, os Coelho e Mello e uma série de nobres que ainda hoje se encastelam na máquina pública sergipana.
A alegada independência perdida era a facilidade, nem sempre concreta, de sonegar impostos ao fisco colonial referente a arrobas e mais arrobas de açúcar ou de farinha de mandioca.