quarta-feira, 3 de março de 2010

Festival de equívocos.

Em primeiro lugar, a cidade é Santo Antonio de Itabaiana, 41ª vila da História do Brasil, 45° município mais antigo do país (41 vilas mais quatro cidades), logo, o nome original já diz quem é o dono do pedaço. Logo, também, que é inadmissível que o dono do pedaço, mesmo que o pedaço fosse hoje, digamos, todo protestante ou de outro credo religioso, não fosse historicamente respeitado. Fora de questionamento, portanto, o feriado de Santo Antonio.
Aí entramos no feriado de Nossa Senhora do Bom Parto. Ora, o Município tem direito a decretar quatro feriados durante o ano. Dois deles já estão previstos na Lei Orgânica: Santo Antonio e o aniversário de Elevação à Cidade, em 28 de agosto. Ficam dois feriados disponíveis para a administração, ouvida a Câmara, mover para onde quiser. Ocorre que com a segunda divisão(*) da trissecular paróquia de Santo Antonio e Almas da Itabaiana, os vereadores resolveram aproveitar um dos dois feriados disponíveis e criar aleatoriamente sob orientação do pároco da referida Paróquia de N. S. do Bom Parto, um dia consagrado a esta santa, que não tem dia no calendário católico, já que se trata de uma das inúmeras denominações da mãe de Cristo. O padre da época assim o orientou com vistas a ficar livre, por exemplo, no dia 08 de dezembro para as celebrações da Capital, Aracaju.
No ano em que foi criado o dito feriado ninguém atentou para a simetria com dois outros feriados: Natal e Ano Bom, os três, tudo no mesmo dia da semana. Muito menos ainda, que o tal dia poderia cair num dia de feira livre, logo, ninguém reclamou. De fato, a maioria dos comerciantes bateu palma: um dia de folga para ir pra praia, curtir seus apartamentos da capital, de Maceió ou Salvador. Todavia, no primeiro momento em que a data bateu de frente com os interesses diretos; e que, ao ser consultada a Lei, esta se reservou intolerante para com descumprimento dos efeitos trabalhistas e remuneratórios, aí, todo mundo resolveu gritar. E desde então, todo ano é o mesmo lenga-lenga.
Sinceramente, não vejo o menor motivo de se criar um feriado para santo católico além do já existente. Se assim continuar, já temos três paróquias dentro do atual município de Itabaiana e mais duas estão na agulha pra serem efetivadas, como vai ficar? E existe santo de primeira e santo de terceira? Por outro lado, me assustei na segunda-feira de carnaval ao sair no comércio de Itabaiana: paramos o país para que Salvador, Recife e Rio de Janeiro façam o carnaval. Em Itabaiana não foi diferente. Aliás, neste quesito, tive que achar normal essa greve patronal-momesca em Itabaiana quando me deparei numa quarta-feira de cinzas com a Capital do Estado fechada pra balanço. Em plena manhã de uma quarta-feira de cinzas. Então, a questão não está na santa e no seu dia; está nas prioridades. E a prioridade da maior parte dos que mandam em Itabaiana não parece ser a santa da paróquia dos pobres.
Sobre a forma como o projeto está sendo encaminhado, em primeiro o pároco é de uma paróquia “pequena” e não “é dos nossos” (coisas do tempo do coronel Sebrão); em segundo a lógica do “se quero, é porque posso; e se posso eu faço” se superpõe a qualquer diálogo. A velha mania ditatorial de quem se acha fraco e sem competência pra negociar. E lá vamos nós pra mais um desgaste sem a menor necessidade.
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(*)Obs. A primeira divisão da paróquia de Santo Antonio foi em 1845 com a criação da Paróquia de N. S. da Boa Hora, no então povoado de Campo do Brito.