quarta-feira, 28 de agosto de 2019

ONDE E COMO APRENDI A AMAR O MEU LUGAR

Se não ama aquilo que se não conhece. No máximo se terá por ele um fanatismo; uma paixão extremada sem razão de existir, que, à primeira decepção nos demoverá desse sentimento de pertencimento mútuo; quiçá transformado em ódio mortal.
Nas páginas articuladas, 50 e 51, os dados são da primeira edição, que tem o Censo de 1960 como parâmetro; já nas páginas 43-44 são usadas informações mais recentes, que já consideram as separações dos territórios de Moita Bonita e de pequena faixa para Areia Branca.
Em 27 de agosto 1969 eu era um garoto beirando os nove anos, ligado apenas nos meus brinquedos, passatempos de captar frutas silvestres e domésticas, nos afazeres com que meus pais já me encaminhavam a um mundo de responsabilidades, e, dentre estas, as aulas de D. Maria do Carmo Nascimento, Carminha de Bastião, na hoje Escola Municipal Dom José Thomaz; a interação intro-escolar com os colegas e extra com outros estudantes de outras escolas, como a “escola de Maria de Toínho de Chico, municipal como a minha, porém no povoado Gandu II, e a escola rural, estadual, e do mesmo povoado, dirigida Por D. Laura (Maria Laura Sampaio).
Naquele 27 de agosto, uma quarta-feira, a minha mãe, quebrando um padrão familiar foi à feira livre da quarta, o que era comum fazê-lo somente aos sábados. E trouxe a novidade! Ao passar pelo Armarinho Tem-Tem, para se abastecer de linhas de coser e outros insumos afins deu de cara com o estado de espírito, em corpo e alma, presente nos proprietários, Francisco Tavares da Costa, o Fefi e esposa, acerca da decisão do campeonato sergipano de futebol, versão 1969, onde o nome da Associação Olímpica de Itabaiana sagrar-se-ia campeão estadual pela primeira vez. Nasceu no mesmo instante meu itabaianismo mediante a paixão de até hoje pelo clube tricolor serrano do meu lugar.
O Armarinho Tem-Tem, sonho de consumo da minúscula classe média refinada da pequena cidade, em fins dos 60 nos anos 70. Com D. Marlene (in memoriam) e os dois filhos do casal Marlene-Fefi.
Em 1971, torcendo pela brilhante atuação da Olímpica de Itabaiana, que chegou a ser Campeão do Nordeste naquele ano, como parte da cesta de livros do meu terceiro ano primário, uma completa novidade: do professor Acrísio Torres Araújo, um livro de Geografia e outro de História, de Sergipe. Os “comi” com a fome que era peculiar ao encontrar uma escrita prazerosa. E meu orgulho foi às alturas: não era só futebol que a minha terra se destaca; havia muito mais.
Aquelas lições de Geografia de Sergipe, com fortes menções à minha querida Itabaiana só seriam comparadas em emoções quando em 1975, aos 15 incompletos, numa tarde modorrenta dei com um exemplar de Santas Almas de Itabaiana Grande. “Agora a coisa é séria”, pensei intimamente. O que o professor Acrísio Cruz havia me revelado eram dados frescos, da Geografia Humana, corrente, atual; o que o jovem estudante de Direito, Vladimir Souza Carvalho trazia, era algo bem mais massudo, profundo; Itabaiana ia bem além de ter o pico mais alto do estado (hoje, constatou-se que eram dados furados: é a Serra Negra, fronteira com a Bahia o ponto culminante), de ter a maior feira livre, de ser o maior produtor de farinha de mandioca, àquela época, ainda a base alimentar, notadamente nordestina, de ser o CELEIRO DE SERGIPE. A história de Itabaiana entrou, definitivamente na minha agenda. Um lugar bem maior do que parece, em que pese a insistência de seus filhos em contentar-se com tão pouco.
Parabéns, minha cidade tardã! Devias assim ter sido fundada por D. Rodrigo de Castelo Branco em 1674. Em contrário, apenas se emancipastes como vila – o padrão geral da época – e, quando conseguiste o citado título o foi por artimanhas. Mas valeu a pena, porque, no dito do grande Fernando Pessoa, “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Na época foi só um título; mas valeu!
Parabéns, SANTO ANTÔNIO DA ITABAIANA, pelo título de 131 anos de cidade!