sábado, 31 de agosto de 2019

Os bumbos de fins de agosto


Do garbo muriliano de ontem (dos 70) e de sempre, às celebrações culturais de que foi mestra a mestra Maria de Branquinha, ou as representações de 2016 (fotos em cores), da Chegança e o reisado e seu jaraguá, a festa é cultura genuína.
Aos quatro anos de idade, sentado sobre pequeno lençol, posto pela minha jovem mãe entre duas carreiras de mandiocas, e sobre as sombras do mandiocal, a me acomodar, enquanto fazia tarefas que não lembro quais, dentro de sua rotina de agricultora na malhada é que lembro de ter escutado pela primeira vez o ritmo forte, cadenciado, de um som diferente, exaltante e que me fez sentir bem. Escapa-me à memória se ali já perguntei e obtive resposta, ou se foi a posteriori; sei que logo soube se tratar dos tambores da “Escola de D. Rita”, a Escola Rural do Rio das Pedras I, divisa dos municípios de Itabaiana se derivado, Areia Branca, a serem executados sob comando de seus alunos nos ensaios para o Sete de Setembro. Como seria bonito, pensei! E a imaginação logo começou a tecer imagens segundo o que senti no momento.
A Mangabeira, meu povoado de nascimento e então de moradia também tinha escola rural; essa invenção do Nacional-Desenvolvimentismo, sempre pilotado neste quesito pelo grande Anízio Teixeira, mas, não tinha o mesmo vigor da do Rio das Pedras I, com mais alunos e estabilidade na direção de D. Rita Bispo, que, como se vê, confundia-se como se dona da escola fosse, tal a dedicação e longevidade no cargo. E por isso tinha um trio de percussão: tambores e caixa. Um luxo! Sinal de poder e prestígio da escola e de sua gestora, também única mestra dela.
Todos os anos, invariavelmente relembro aqueles baticuns.  É que há mais ou menos quinze dias voltei a escutar: é a banda marcial do setentão Colégio Estadual Murilo Braga a se preparar para o Sete de Setembro, a segunda maior festa perene da cidade, já que só a intermitente Micarana conseguiu superar a de Santo Antônio, perenemente a maior há pelo menos um século; mas veio e foi-se, para alegria dos cofres da cidade, principalmente da municipalidade.
E no próximo dia 7 lá estará um quarto da cidade na avenida principal, como tem feito regularmente todos os anos para ver seus filhos, netos, sobrinhos, amigos, ou mesmo apenas assistir o capricho das escolas municipais e estaduais (talvez uma ou outra privada) ao exporem a criatividade de seus heróis e heroínas docentes sob o som ritmado de caixas, tambores e até variados instrumentos de sopro.
O desfile do dia Sete em Itabaiana não é “o Rio de Janeiro”; mas continua lindo. 
Tudo preparado desde fins de agosto.

Microglossário para não locais:
- Carreira de mandioca, plantação em fila, geralmente de vinte e cinco a trinta touceiras, por sobre lombada de terra para isso preparada;
- Malhada, o mesmo que roçado. Tem origem em costume medieval de por o gado em malhador, junto, a pernoitar sobre o terreno e depois aproveitar a terra fertilizada por excrementos para o plantio.