quarta-feira, 1 de março de 2023

PRAZER DE VIVER.


 “mas encontrei muitas pessoas tristes; desaprendendo conversar, que parece que eu estou carregando os pecados do mundo” 

(Sá, Rodrix e Guarabira, em A Última Canção da Estrada)

Hoje pela manhã, cingi-me de boas intenções e saí disposto a praticar alguma das 40 práticas para a quaresma, emitidas pelo Santo Padre, o Santo Chico, que se Papa não fosse eu assim o consideraria.
Cumprimentei com alegria as pessoas que vejo todos os dias. (ou quase); sorri (para todos que me foi possível), um cristão é sempre alegre!; telefonei (em verdade mandei mensagem) para (todos) que você não veja há algum tempo; ouvi a história do outro, sem julgamento, com amor; procurei ser - e até fui - gentil com os que estão perto de você; e mais alguns.
Um, em especial foi sobremodo confortante: Abracei amigos para tocar-lhes o coração com o meu; já noutro, “Animar a quem está triste”, falhei miseravelmente.
Neste último caso, encontrei nos mil metros percorridos na ida para o centro, pessoas nervosas, preocupadas, centradas, provavelmente em ganhar dinheiro, porque negociantes em negociação; porém, uma, em especial me marcou com profundidade. Uma amiga de adolescência: cara triste, sofrida, talvez de dor, mas que entre o choque de revê-la depois de anos, naquele estado; e de certa forma termos cortado o contato e o papo me vi impedido de pará-la em plena Rua São Paulo, em dia de feira, ela vindo em sentido contrário ao meu. Deixei-a passar sem sequer lhe dirigir um leve aceno. Não sei se ela me viu; mas não a percebi olhando para mim. Já eu a vi e fiquei pasmo com o possível sofrimento que possivelmente venha passando, interferindo até no seu envelhecimento, já que visivelmente mais velha para o padrão esperado para a idade, similar à minha.
Todavia, também nos sobreditos mil metros vi, distribui e retribuí muitos sorrisos, ora acompanhados de mensagens sonoras – o tradicional bom dia – ora, apenas a leve menção; mais que suficiente para induzir a produção de serotonina ao meu cérebro; em linguagem simples, dar felicidade.
E o apogeu foi quando cheguei “ao Senadinho” – a Kiola - para o “primeiro” expediente parlamentar do dia.
Além de alguns contumazes amigos, já ali presente, privei de imediato pela companhia do amigo, companheiro de aventuras político-ideológicas, o antológico professor secundarista de Português e Literatura no Murilo Braga, depois na Federal de Sergipe, José Costa de Almeida.
Zé Costa, para minha surpresa, recentemente se identificou a mim como ex-aluno do Curso Primário da Escola Rural da Mangabeira; escola essa que foi um dos esforços do meu saudoso pai, Alexandre Frutuoso Bispo junto às autoridades competentes. E, entre outros benefícios, por cujo os conterrâneos mangabeirenses em agradecimento levaram a primeira administração municipal de Valmir dos Santos Costa a nominar a Praça do povoado, onde fica a mesma escola, com o nome do meu pai. É a única no estado que ainda resta com o nome de “Rural”.
Nem bem tinha posto as fofocas em dia com Zé Costa e demais amigos, eis que aparece minha eterna professora de Educação Artística, Marineuza Andrade. Aí se formou dois ícones do velho Murilo e, obviamente que o papo só fez render o caldo
Fechando com chave de ouro a prática quaresmal a que aludi... meu amigo Paulinho de Dóssi.
José Paulo de Oliveira, filho do casal, maestro da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, José Olintho de Oliveira e Eudócia, a matrona serrana típica Dóssi, e ainda tendo por irmão o outro meu grande amigo, o saudoso Antônio de Oliveira é uma lenda viva na nossa historiografia recente.
Só para registro, outro membro da família – José de Oliveira, Zé Oínho – residente por muitos anos no Rio de Janeiro, depois de morto fez algo inusitado: antes de morrer pediu às filhas que queria ser cremado e suas cinzar espalhadas ao vento em cima da serra de Itabaiana. E assim foi feito em 22 de agosto de 2021.
Itabaiana, até meados do século XX é produto totalmente individual de “carregadores de piano”, no dizer de Fefi (Francisco Tavares da Costa), ele próprio um deles. Mas não mudou muito, ao menos nas três décadas a seguir, a partir de 1950. Paulinho é um deles.
Despretensiosamente, o então jovem bancário apaixonou-se por artes, desde o cinema, a música e a fotografia. E é aqui onde sua colaboração foi imprescindível em atar uma linha de fotógrafos a registrar Itabaiana, desde Miguel Teixeira, passando por Percílio Andrade, João Teixeira Lobo, Romeu Alves Santos e, coexistindo com esse e com volume maior, o excelente amador Paulinho.
Muito se teria perdido nos descaminhos do esquecimento não fosse o registro desinteressado, porém lúdico e cuidadoso do garotão “perdedor de tempo”.
Foi com figura dessa estatura que fechei a manhã.
Como se diz... ganhei o dia.