quarta-feira, 12 de novembro de 2025

A ETERNIDADE DA ESCRITA

 

Há quatro mil anos, uma senhora, de nome Lamassi escreveu uma carta desaforada ao folgado do marido, Push-ken. Ela, morando em Assur, cidade do então futuro Império Assírio, hoje norte do Iraque; ele, comerciante, 900 quilômetros a noroeste, na cidade de Kanesh, na atual Turquia. Ambas as cidades já não existem há dois mil anos.

E o que disse, e porque o disse D. Lamassi? Bem, previamente ela reclamou que há muito tempo não recebia nada do marido para manter a família. Então, frente a cobrança em assumir as responsabilidades de família, ele a acusou de desperdiçada. E ela não engoliu o desaforo. Foi para cima, inclusive o acusando de ter levado seus tecidos, fabricados artesanalmente por ela; tê-los vendidos e embolsado o dinheiro, não mandado nada para casa. 

Botou o malando no lugar dele. E aí vem a humilhação total: “O vizinho construiu uma casa nova para a esposa; enquanto ele a deixava vivendo numa arapuca”. Matou!

Por que sabemos isso?

Porque foi escrito. Como se fazia na época, e naquela região: no barro. Que depois queimou. Virou pedra. Depois que a casa caiu, foi encoberto pela areia, barro... e há cem anos, por volta de 1920, foi reencontrado, limpo, e interpretado pelos estudiosos ingleses. 

Só fica o que é escrito e impresso. O resto voa com o tempo e o vento.

O extrato do jornal O Serrano, acima, de 31 de maio de 1975, acaba de me confirmar, documentalmente, algo com que convivi, ou seja o assombro de Mané de Zeca dos Peixes, ou Manoel Gois que “sozinho mandou asfaltar a avenida nova, da nova estrada (BR-235 asfaltada) até o posto”. 

Eu sempre soube disso. Mas não dispunha do documento. Que a então garotada do Serrano grafou, e agora eu recupero: a primeira via pública asfaltada de Itabaiana foi uma iniciativa particular.

Viva o livro, a revista e o jornal.

Viva o impresso!