sexta-feira, 14 de novembro de 2025

O MUSEU DE ZÉ DE ANA.

 

Recentemente, mais precisamente durante a VII Bienal Internacional do Livro de Itabaiana, promovida pela Academia Itabaianense de Letras, fins de outubro próximo passado, o prefeito municipal de Itabaiana, Valmir Costa, assinou um calhamaço de leis (para os padrões históricos culturais de Itabaiana), promovendo a cultura no município.

Dentre estas, a lei que fixa em prédio próprio, o Museu Municipal, desde a sua criação, em ambiente não muito apropriado, para algo de extrema necessidade de estabilidade.

A casa de memórias itabaianenses mudará definitivamente para um endereço emblemático, qual seja onde funcionou por décadas o cartório de 3º Ofício, ou Cartório de Registro Civil, em que todo mundo foi algum dia, ou ainda Cartório de Serapião, ex-prefeito Serapião Antônio de Góis, dele tabelião por mais de trinta anos, justo na fase de maior crescimento da cidade.

Conforme o que sabemos, toda a estrutura frontal, clássica do curto período do Estado-Novo, será preservada; com mudança da estrutura apenas na parte interna, consoante a necessidade do objetivo.


Minha Itabaiana de tantas tentativas.

O local onde funcionou "o Cartório de Serapião", e a casa adjacente indenizados e aguardando a estruturação para abrigar, em definitivo, o Museu Municipal, criado a menos de duas décadas.
Em 1872, Miguel Teixeira da Cunha foi a Salvador, pela velha e seiscentista trilha das boiadas, buscar seu daguerreotipo, na época já em processo de mudança de nome pra câmera fotográfica. Aguentou. E nos legou excelentes registros da antiga Santo Antônio de Itabaiana. Mas sabe Deus a que duras penas.
Em 1875, duas bombas: em 30 de março foi assinada toda a documentação para a construção da ferrovia Alagoinhas-BA e Itabaiana-SE, de onde deveria sair ramais para o resto do estado. Foi tudo providenciado. Menos o início das obras.  Muito menos o trem chegou. E logo mais à frente foi criado em Itabaiana o primeiro Gabinete de Leitura do interior sergipano. Existiu até a saída do professor que o criou.
Em resumo, sempre houve por aqui os Dom Quixote a combater os moinhos da ignorância; e as promessas de um futuro promissor. O problema é que os ditos moinhos sempre foram muitos e objetivamente poderosos. Em contrário.
Em 1980 me tornei carteiro, numa promoção interna e fui para as ruas entregar cartas. Um dos endereços mais frequentados, aonde mais chegavam cartas, estava na Rua Padre Felismino. O museu de Zé de Ana.
No entanto, havia cada vez mais desânimo daquele projeto ter continuidade. E não teve. De fato, depreende-se do artigo de Vladimir Souza Carvalho, de 1969, ainda um estudante secundarista; hoje um desembargador federal aposentado, que ali já se vivia sem muitas expectativas positivas.
Mas, como disse Galileu Galilei, eppur se muove; e o Museu Municipal já vai com quase duas dezenas de anos.
Agora, com endereço definitivo, esperamos que cresça; enriqueça o acervo, enfim faça jus à até agora tão mal tratada identidade serrana, mesma com mais de quatro séculos total, e três e meio de sua cidade; seu núcleo administrativo.
Para mim, que vivi um pouco o drama de José Conrado dos Santos, o Zé de Ana, e tantas outras lutas inglórias, isso tem gosto de vitória.
Viva os novos tempos.