segunda-feira, 28 de julho de 2008

De professores e vaqueiros.

A demissão de Chiquinho Ferreira da Secretaria Municipal de Comunicação e Assuntos Parlamentares expõe de maneira clara o calcanhar de Aquiles da administração Maria Mendonça. Matou bem a charada o radialista Eduardo Abril em seu programa diário na Rádio Itabaiana FM, hoje, 28 de julho, pela manhã. O radialista foi textual: Chiquinho saiu porque não agradou à ala de Zé Teles, irmão da Prefeita. Mesmo que não tivéssemos informações suplementares sobre o caso, todavia, o modus operandi por si só já denuncia de onde veio a decisão. Chiquinho foi vítima da briga de foice pelo controle político interno do grupo que sempre houve entre a prefeita e seu irmão, até pouco tempo atrás magistralmente conduzida pelo patriarca Chico de Miguel, que agora já não está mais entre nós.

Um mais um é igual a menos de um.
O poder como atividade humana sempre foi e será um lago de tormentas haja vista sua natureza. Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar; essa é uma lei inflexível da Física. Nem mesmo a Física Quântica ousa tornar tal realidade uma mera possibilidade.
Até a perda de controle da Prefeitura em 1988 nunca existiu mais de uma força no grupo de Chico de Miguel. Ele mandava e todos obedeciam. Ao menos não peitavam. A influência dos dois filhos que mais se projetaram - a partir de 1974, a do ex-deputado Zé Teles; e em seguida, a partir do início dos anos 80, da prefeita Maria Mendonça – cresceu exponencialmente à medida que o velho se ausentava, sem contudo perder o leme da situação.
Duas vertentes distintas, mesmo que com o mesmo objetivo se formou. A da prefeita, composta em sua maioria pelo lado intelectual do grupo, lastreado na massa de funcionários públicos estaduais e municipais atrelados ao grupo durante os mais de quarenta anos de poder, e composta principalmente de trabalhadores da Educação, alguns de zelo e dedicação impecáveis. Como todo ambiente intelectual, logo burocrático tem como característica a movimentação lenta, de atitudes extremamente pesadas e repesadas, com larga base ética, mas ao mesmo tempo uma dificuldade imensa em decidir. Já no caso da ala que se agregou a Zé Teles, prima essa pelo excesso de simplicidade. É de uma agilidade impressionante, quase sempre inconseqüente, como é da natureza de todo voluntarismo. Compõe-se basicamente da turma do aqui, agora e já. Nem mesmo os meios interessam; e sim, e apenas os fins. Nos últimos seis meses têm pululado releases contendo mensagens publicitárias, como por exemplo, promessas de obras no mínimo questionáveis na sua variável tempo. Sente-se ali, as digitais dessa turma. Possivelmente a maioria desses anúncios que atropelam qualquer bom senso, sequer tem chegado depois à prefeita; muito menos, antes de suas publicações. É o estilo. Se quero, posso; se posso, faço.
A união das duas forças – a burocrática e a prática – entretanto, se bem dosada é imbatível em todos os sentidos. Seja na execução administrativa, sempre carente de projeto, discussão e decisão, tudo em tempo adequado; seja nos rendimentos políticos eleitorais que isso dá. Ninguém gosta de governantes que não decidem, todavia, pra bem decidir é preciso primeiro seguir a característica que tornou os humanos diferentes dos outros animais: o pensar. Intuir, projetar, se possível testar e então por em prática. Isso foi feito pelo primeiro primitivo quando resolveu que um pedaço roliço de tronco rendia bem mais que o próprio tronco. Estava inventada a roda. O que observamos na administração municipal atual é que essas duas forças, ao contrário de se complementarem, batem de frente uma com a outra prejudicando a ambas e, pior, o município.

Ciclo vicioso
Quando houve a posse da atual administração estranhamos certas atitudes como aquela de tirar uma montanha de funcionários - bem ou mal – treinados e com considerável experiência em suas respectivas áreas. Experiência é um tipo de patrimônio que se não consegue através de roubo, da compra ou qualquer outra modalidade de aquisição rápida.
Em todas as culturas que engendraram grandes nações, a figura do ancião sempre foi um culto, exatamente por ser, por natureza, a voz da experiência. Somente no Brasil é que se criou essa cretinice de que o que vale é somente o novo. Não é a toa que ainda penamos pra apenas manter-nos entre os dez mais ricos países do mundo.
Bem, mas voltando à administração municipal, fiquei na expectativa. Logo, logo os dois lados, supra mencionados mostraram suas características. A eleição perdida por Zé Teles para a Assembléia Legislativa em 2006 poderia produzir dois resultados: um bom para o município, uma inflexão, e por extensão para o grupo político que o comanda; e outro, travador, uma piora da mesmice então vigente. Infelizmente houve a opção pelo “mais fácil”. Não veio a reengenharia necessária para fazer avançar mais o município, a própria administração e até a tranqüilidade política de seus detentores. Logo partidários do dito grupo passaram a bradar em tom às vezes raivoso sobre as “virtudes” do poder do dinheiro na eleição. Ora, só um louco acha que é possível ganhar uma eleição sem dinheiro. Venha de onde vier; vá para onde for. Entretanto, achar que azeitar uma máquina de favores e “outros favores” é suficiente... é complicado.
E não basta ganhar. É preciso convencer porque ganhou.

Em tempo: nestes tempos de internet – no celular, inclusive - verdades fabricadas desmancham no ar numa rapidez maior que fumaça dos fogos que em suas comemorações são espocados.