domingo, 13 de julho de 2008

Hora da catação

Atenção, senhores políticos! É chegada a hora da prestação de contas. E que contas.
Um aspecto trivial, senão singelo, me chamou a atenção para esse costume de há muito arraigado. Soube que a Associação dos Estudantes Universitários está com sérias dificuldades em arrecadar as contribuições de boa parte da má parte de seus associados. Lembrete aos navegantes: isso pode fazer parte daquela mesma tendência de se atrasar contas de água e luz, principalmente, tão verificadas sempre que se aproxima uma nova eleição. Esse fenômeno atinge gente de praticamente todas as classes. Os mais pobres guardam seus pagamentos de água e luz pra debitar na conta do político que ousar lhe pedir o voto. A classe média (ricos por aqui não os há), se pequeno empresário e com impostos atrasados trata de limpá-los – no mínimo negociá-los; se assalariada vai à busca de outros tipos de compensação e é aqui que pode estar entrando esse caso de alta inadimplência que ora estaria sendo registrada, porém, nunca observada, na dita Associação por parte polpuda de seus associados. Logo aparecerá a pergunta: “Como é, Maria (ou Luciano), vai pagar ou vai deixar quebrar? E os pobrezinhos dos estudantes como é que ficam?”É! Essa intimidação já foi usada várias vezes. E é comum durante a organização de nossa mais volumosa festa, a Micarana. Durante a festa é um nervosismo... é um duvidar se banda “A” ou “B” sobe ou não no Trio... Terminada a festa, é um trocar de carro, adquirir outros novos bens e principalmente passar o resto do ano inteiro de bar em bar a comemorar o bom negócio.

Marli “doida”

Ano de 1987, no pós cruzado novo (o primeiro já havia ficado velho com apenas um ano de idade), eis que estou numa tardinha na lanchonete Center Lanches, "point" que à época reunia quase cem por cento dos radialistas, os raros jornalistas, políticos, fofoqueiros, enfim, gente ativa na vida política itabaianense. E lá vem Marli “doida” como ainda hoje é conhecida.
Marli, na época tinha o mau hábito de, além de se vestir mal, andar com os cabelos desgrenhados e não tomava banho o que a deixava com um cheiro nada suportável. E isso, já o fazia, como forma de intimidação. Pra se não ver constrangido com o cheiro de Marli, tinha gente que lhe passava dinheiro pra evitar a qualquer custo o contato demorado com a mesma.
Bem, mas naquela tarde Marli chegou como de costume, sem banho e com um vestido pra lá de surrado e cuja parte inferior, a saia, batia-lhe nos mondongos. Abordou-me pedindo dinheiro pra ajudar a pagar um bolo de contas de água e luz, presumidamente de uns dez talões. Naqueles tempos, o governo era mais lento em cobrar os atrasados dos consumidores de produtos das companhias estatais e a empresa de eletricidade ainda não havia sido doada à iniciativa privada. Eu, sequer conferi se as contas eram mesmo da Marli (havia gente que se aproveitava dela pra tirar também uma casquinha). Quebrado, com sessenta cruzados novos no bolso fiquei um pouco envergonhado de contribuir com apenas dez. O valor no total dava somente pra comprar uma carteira de cigarros e pagar o cafezinho que havia acabado de tomar, além de também comprar uma caixa de fósforos. Como já dito, fiquei envergonhado de somente contribuir para tão grã e nobre causa com uma caixa de fósforos, então decidi dar-lhe meus "cinqüentinha". A Marli pôs a mão num “bolsinho” que tinha na parte inferior do vestido; desceu a mão; e desceu; e desceu até chegar à altura do mondongo. De lá veio arrastando um pacote de pelo menos umas cem “cinqüentinhas” que me fez ver quem realmente tinha dinheiro. Meio admirado, meio traído exclamei: “Oh, Marli, e é assim, é? Você com mais dinheiro e eu é que tenho que contribuir?” De pronto, Marli deu-me a lição: “Otário é pr’isso mesmo!” Caí na gargalhada. O que mais poderia fazer?
Moral da história: Não acredite em doidos. Nem mesmo em coitados. Apenas ajude se achar que merece e você o pode. Especialmente, se político, tenha cuidado com prestações atrasadas em período eleitoral.