quarta-feira, 16 de julho de 2008

Péssimas memórias

“...e me parti no dia 15 de julho com grande invernada e infinitas descomodidades, e me vendo no Rio Real com Belchior Dias passei dali a Sergipe, dando com seu aviso na conformidade de que tratáramos, fui à serra de Itabaiana, dez léguas aos sertões da cidade, chegamos ali levou o dia seguinte a meia ladeira de um oiteiro...”

Carta de D. Luiz de Souza a S. M. D. Felipe III, em 15 de setembro de 1619.

Arquivo Histórico Ultramarino - Conselho Ultramarino - Brasil-Sergipe, Cx.001, Inv, oo1 - BNL.



O exame da primeira intervenção de governo na Itabaiana é desanimador. Desde ali aprendemos a conviver com a mentira, ora como forma de se auto-proteger, ora como forma de amealhar alguma vantagem. Hoje, 16 de julho fazem exatamente trezentos e oitenta e nove anos do primeiro desastre do poder público entre nós. Inicialmente a única vítima foi o neto de Caramuru, Melchior Dias Moréia. A maldição não ficou só nele. Infelizmente. Melchior foi torturado até quase morrer; passou mais três anos numa masmorra de Salvador; a prata nunca ninguém a achou; e nasceu a lenda da Itabaiana.(*)
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Nota. Ao tempo da criação de Sergipe (1590) o império português pertencia à Espanha bem como em 1619 quando ali reinava Felipe III.
A cidade aqui referida era a tosca fortificação de Sergipe d'El-Rey, no exato lugar onde se encontra a São Cristóvão atual, e que anos depois herdou essa denominação da missão de jesuítas que antes houvera na Barra dos Coqueiros. Em 1637 constava de apenas cem casas de taipa além da torre de madeira que a sinalizava; e a cerca de pau-a-pique que a rodeava.
A Serra de Itabaiana era todas do conjunto de serras ao entorno e não apenas a maior delas, cuja atualmente é a única com essa denominação.
O local do desengano da prata é o atual povoado de Serra das Minas, atual município do Campo do Brito.
(*) Trecho refeito por estar inicialmente confuso. Desculpas a quem já o leu antes.