terça-feira, 31 de março de 2009

Chiquinho e os sabonetes.

Zeloso funcionário público federal por quase quarenta anos, já há mais de dez, aposentado, meu colega e amigo Francisco Alves Oliveira, o Chiquinho, é dessas pessoas ímpares que se encontra pelos caminhos da vida.
Ao assumir meu cargo de laboratorista da Fundação SESP, em março de 1983, o encontrei em pleno exercício de seu trabalho como o fazia já há mais de vinte anos. Na época, era chefe da Unidade local da dita fundação, o médico alagoano Álvaro Antonio Melo Machado que depois viria a presidir a fundação criada a partir dos cacos do SESP e da SUCAM, a hoje FUNASA.
Chiquinho é desses cuidadosos, mas tão cuidadosos que, dizia-se, até as pedaladas que dava numa velha bicicleta até as agências bancárias, ele as contava para racionalizar uma melhor maneira de fazê-lo. Faz tempos que com ele não encontro, mas, seguramente deve continuar no mesmo zelo que sempre devotou ao que fez, não só no trabalho, mas agora faz também em casa.
Certa feita, em mais um rodízio de tarefas em que lhe coube tomar conta do almoxarifado, acabara de arrumar um lote de suprimentos, quando o chefe da Unidade adentrou ao recinto para fazer-lhe alguns questionamentos corriqueiros. Esse, ao deparar-se com um lote de sabonetes diferentes daqueles a que estava acostumado, tomou um nas mãos, observou-o bem e fez o comentário: “marca nova, né Seu Francisco! É bom e barato?” Chiquinho deu a resposta e o médico colocou o sabonete de volta na pilha disposta sobre a prateleira. Incontinente, Chiquinho tomou de duas tábuas pequenas, que as usava com freqüência para dar uniformidade às pilhas de pequenos objetos, e acertou o dito sabonete de forma a ficar cem por cento aprumado com os demais. Óbvio, isso provocou uma observação do chefe, acompanhada de risos de ambos e explicações por parte de Chiquinho do porquê de tanto cuidado.
A melhor maneira de roubar é fazê-lo sem ser notado. E a melhor forma de se não ter o roubo notado é bagunçar primeiro. Logo, quase toda desorganização advém, ou de algum tolo que se descuida daquilo que finge administrar, abrindo um enorme buraco por onde passa tudo; ou por alguém já mal intencionado, que desorganiza tudo para que ninguém veja onde e como está a meter a mão. Numa pilha de sabonetes bem arrumados, um único que seja mexido de lugar logo será notado. Ao contrário, só forem dispostos de qualquer jeito, numa ruma, mesmo uma visão treinada só dará por falta de algum deles quando mais de dez já tiverem ido pro beleléu.