quarta-feira, 17 de junho de 2009

Visões.




Há uma diferença básica entre quem tem visão e quem tem olho grande. Os que se enquadram neste último, em geral só enxergam o próprio umbigo; vivem de tropeçar na própria esperteza sem, naturalmente conseguir sair do lugar. Vive de pequenos golpes que jamais o fará grande. Já os que pertencem ao primeiro, raríssimos de serem encontrados, tem uma visão tão profunda que seus produtos atravessam gerações, às vezes séculos ou até milênios. Quando gerenciados para o lucro de médio prazo transformam-se em grandes e respeitadas fortunas. No mínimo se tornam exemplo para a história de um povo.
Ao fim dos anos 70 tínhamos em Itabaiana uma economia emperrada pela estagnação do mercado de serviços de transportes que dez anos antes havia ajudado a turbinar a economia local - vem daí a força do caminhoneiro – e pela perda de competitividade de nossos produtos agrícolas, majoritariamente de cultura de sequeiro, sem chance alguma frente às modernas técnicas de cultura mecanizada então em desenvolvimento no Centro-Oeste e Sul do país. Corríamos um risco maior do que as velhas cidades industrializadas de Propriá e Estância, também sendo atropeladas pela mais nova geração industrial.
Mas aqui entra um componente que, ou por golpe de sorte ou não, acabou por mudar o destino. Talvez seus executores sequer tenham pensado no tamanho e importância do que estavam provocando ao construir duas barragens e respectivos sistemas de irrigação. Havia braços. Havia micro-gerentes, comerciantes, capacidade de transporte instalada ociosa, braços prontos para o trabalho, desde que compensador. Havia vontade de progredir. Faltava logística. E ela veio. Água, estradas – antes eram proibitivas até a carroça no inverno – e energia. Aliás, até postos de saúde que pouca ou nenhuma serventia teve foram agregados, além de algumas unidades educacionais que foram construídas.
Entre 1970 e 1980 a população rural estagnou na casa dos vinte e cinco mil habitantes. Porém, a manter-se a marcha do êxodo registrada nas duas décadas anteriores seria de esperar que hoje praticamente ninguém mais morasse na zona rural de Itabaiana. O ritmo de venda de propriedades pequenas para agregação a propriedades maiores na década de 80 foi enorme. Fruto ainda do desencanto com o sistema antigo de fazer agricultura e da atratividade dos falsos juros da inflação galopante daqueles anos. Mesmo assim, e apesar de um componente novo - a insegurança policial experimentada a partir da década de 80 - a nossa zona rural permanece produtiva e é a base de toda a cadeia de geração de riquezas em nosso município. Tudo isso graças aos dois sistemas de irrigação. É preciso lembrar que, apesar do perigo iminente de salinização do solo, os poços artesianos também ajudaram muito. Mas, neste caso, ainda esta por vir um estudo criterioso que mostre se realmente foi vantagem ou não.
O fato é que, como se diz no popular, quando se junta a comida com a vontade de comer a coisa anda. O ser humano é um ser transformador por natureza, todavia, quando usa a energia de sua criação para agregar valor a situações pré-existentes, geralmente o resultado é excepcionalmente bom.