sexta-feira, 10 de julho de 2009

Filosofias do velho Raul

Hoje estava a ouvir, parcialmente, já que por breves minutos o amigo e colega radialista Francis de Andrade em seu programa - Rádio Itabaiana FM - tecendo comentários sobre um encontro do DEM em Paulo Afonso, na Bahia, e sobre a busca de fechamento de questão em torno do nome do atual governador de São Paulo, José Serra, para concorrer à Presidência da República no próximo ano.
Refletindo, diante do mico (mais aqui e aqui) que Serra pagou esta semana; da praticamente nenhuma realização que seu governo - seja como prefeito por dois anos, seja como governador do Estado, ambos em São Paulo - tem pra mostrar fica a pergunta: será que Serra está disposto a correr o risco de queimar de vez o último cartucho? Estaria Serra repetindo aqui o ex-deputado Wilson “Gia” da Cunha, daqui de Itabaiana? Em 1996, concorrendo à Prefeitura com um Luciano Bispo hiper-turbinado e um lado, e do outro lado uma candidata, mesmo que fraca representndo "o outro lado", e o então PFL, atual DEM, resolveu que era hora da prestação de contas. Gia havia sido eleito à Câmara Federal em 1994 por obra e graça do esquema do governador João Alves Filho. Chegou a hora de ser massacrado em nome da honra do nome do partido. E foi. E nunca mais foi eleito. Serra tem se mantido no topo graças ao velho peerrepismo-udenismo paulista(*) entranhado na mídia grande do país, hoje toda ela em São Paulo, e nas organizações patronais daquele Estado, especialmente FIESP e ASCP (Associação Comercial de São Paulo). Eles têm tentado de tudo, desde esconder cem por cento das falhas de seus governos a até turbinar supostas realizações que de fato foram feitas por antecessores ou sucessores, como a questão dos genéricos e as patentes de remédios. Com o quadro atual, Lula vai eleger o seu “poste” Dilma Rousseff e aí, pra Serra, nem o mel nem a cabaça. Recuar agora é terrível. A Folha de São Paulo, um dos pilares do peerepismo-udeno-tucanismo paulista por seu instituto DataFolha já decretou: Serra não está no páreo para a reeleição em São Paulo, a que por sinal tem direito. Isso também é um aviso: não se meta a besta de deixar de barato pro Lula, vai ter que ir pro sacrifício. Nunca ninguém viu uma campanha tão suja como a que vem pela frente. Nem a mesmo a eleição que os paulistas fraudaram para Julio Prestes em 1930 – e que deu na Revolução que levou Getúlio ao poder – se compara ao que vem pela frente.
Na nossa modesta opinião, será um triste epitáfio para um político que, se não foi tão brilhante como alguns apregoam, ao menos teve até aqui qualidades que aqueles que o conduz jamais terão. Deve ser praga de Maluf. Tanto a direita tradicionalista paulista passou a perna no libanês que ele teve de se contentar em ser apenas deputado federal com direito a “certos destaques” na mídia nacional tangida a partir... de São Paulo. Agora, a mesma mídia e esquemas de gabinete que o crucificaram já fizeram de tudo pra tirar “um simples operário” do poder colocando o “Dotô” Serra e não conseguem.
O Serra deve estar matutando sobre os versos do velho Raul Seixas:
Hei Julio César,
vê se não vai ao Senado,
pois já sabem do teu plano
para controlar o Estado.
Raul Seixas in Al Capone.

(*) Peerrepismo-udenismo vem de PRP (Partido Republicano Paulista, criado ao fim do século XIX e o maior responsável pela deposição do Imperador D. Pedro II em 1889) e UDN (União Democrática Nacional, de orientação intelectualizada e direitista ou extremo-direitista, criada em 1934 pra combater Getúlio Vargas, que, como o PSDB foi um partido de alcance nacional, todavia, de fato, uma célula política da política de paulista).
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Obs. Este artigo foi corrigido nas datas referentes ao ex-deputado Gia. De 2000, erroneamente escrito de início, para 1996.