quarta-feira, 14 de maio de 2008

Pacto rompido.


Demorou, mas, parece ter tido rompimento o pacto, mesmo que não oficializado, firmado entre o SINTESE – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Sergipe, e a prefeita Maria Mendonça. A acusação do SINTESE contra Maria é a mesma contra qualquer um dos mortais comuns no cargo de prefeito. Cai, portanto, o encanto de que “com a educadora” vai ser tudo melhor.
A passeata a que presenciamos ontem pela manhã , simbolicamente o dia da Libertação dos Escravos, por volta das onze horas não era nem de longe quilométrica. Da mesma forma não tinha talvez vinte por cento do corpo educacional do município; todavia, representa o fim das ilusões e com ele o início de tempos menos amenos para a chefe de governo itabaianense.


A educadora.


“Jose de Almeida Bispo, como um botão de flor que desabrocha, assim seja a tua carreira estudantil”. Estas são as palavras grafadas no cartãozinho anexo a um botão de rosa artificial de cor branca que ainda hoje minha zelosa mãe preserva. O dito cartãozinho foi recebido por mim quando da minha “formatura” de quarto ano primário; um luxo, naqueles ainda tempos difíceis do início da década de setenta. Obviamente que já havia o segundo grau no Murilo Braga, implantado três anos antes. Mas eu residia na zona rural e não havia, no caso ônibus disponível, especialmente em alguns horários, e quando o havia era pago do próprio bolso. Muito menos a enxurrada de carros hoje à disposição da garotada, nem sempre fazendo bom uso das boas coisas que os antigos se mataram para lhe criar.
Bom, mas essa introdução é para exemplificar o profissionalismo relativo à área da educação da atual chefe de governo de Itabaiana. Não me consta que nunca Maria tenha estado a ensinar numa sala de aula. Todavia, desde que completou a maioridade que ela faz administração em educação. Praticamente até sua primeira eleição à Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe em 1994. Só aí, desde aquele 15 de novembro de 1973 quando me premiou com o diploma do curso primário e a dita florzinha, se vão vinte e um anos. Cá pra nós, isso é um imperativo para que acerte. Os prédios escolares do Município, ao menos até onde vai o meu conhecimento, finalmente ganharam cara de lugar pra gente. Porém, “nem só de pão vive o homem”. Prédios bonitos são elementares quando o sistema como um todo vai bem. E esse sistema quer dizer o corpo produtivo, o funcionalismo. Não é o que parece estar acontecendo pelo clamor cada vez maior dos eternos louvados e ao mesmo tempo desrespeitados professores.



A politicagem.


Por outro lado não deu pra perceber no movimento de ontem pela manhã o dedo da oposição “incendiária”. No grupo tinha gente reconhecidamente ligada ao ex-prefeito, mas, a maioria deles eu vi pulando nas passeatas que levou Maria à vitória em 2004. E olha que eu era candidato a vereador por uma terceira coligação e pouquíssimas vezes pude ver as manifestações das duas coligações maiores – a de Luciano e a da própria Maria. Que há contaminação político-partidária é impossível de não haver. A política partidária está presente em tudo que fazemos e, no caso de Itabaiana, seria querer demais. Logo, concluímos que o pacto foi rompido e os “contra Maria” recebem agora o apoio dos ex-“a favor de Maria”.



Velhos dilemas.


Desde que a escola se tornou universal - e não apenas restrita aos membros de confrarias, como na Idade Média – que o dilema tem sido o mesmo: manter boas escolas com bons professores ou relaxar e deixar por conta. Considerável parte dos políticos que adentram ao serviço público mediante cargos eletivos não dá a menor importância à educação. Aliás, a escola vem se transformando cada vez mais numa casa de babás onde mães fugidias e pais ausentes buscam ali depositar seus pestinhas livrando-se de suas árduas responsabilidades de educar e, como todo educador, punir sempre que necessário. O resultado é uma produção cada vez maior de monstrinhos, especialmente na classe média e onde os simplistas se perguntam depois: mas eu não “dei tudo” a ele (ela)? E a escola produz relativamente menos.
Incrível, mas professora virou babá, substituta daquelas mães pretas que levavam bofetadas nas canelas e nada podiam fazer contra o “sinhozinho”.
A velha politicagem também continua a agir, apesar das numerosas travas que se vem interpondo mediante a legislação e até mesma da gritaria dos diretamente atingidos - os professores. Mas ainda está cheio de vereadores, postulantes e puxa-sacos, principalmente, politiquinhos de todo tipo, doidos pra “detonar” essa ou aquela professora por “não rezar na cartilha”. Aos arrebentados de agora sobrará a documentação para ser analisada pelos historiadores do futuro como a que encontramos na “Mensagem à Assembléa Legislativa do Estado de Sergipe, em 7 de setembro de 1911, na instalação da 2ª Sessão Ordinário da 10ª Legislatura pelo Presidente do Estado, Exmo. Sr. Dr. José Rodrigues da Costa Dória”(1), referente à professora da Terra Vermelha, D. Isabel Giudice de Lima, acusada de interpor vários atestados de saúde facciosos e sob a proteção de Batista Itajay. Pode até ter sido verdade. O problema é acreditar na isenção de quem denunciou e principalmente em quem acolheu a denúncia, um desafeto declarado de Itajay, que havia sido recentemente enxotado do cargo de governador do Estado pela mesma turminha de coronéis que agora lhe teciam denúncias e mais denúncias.

(1) Página 61 (veja mais aqui)