quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Muito obrigado, meu caro. Mas...


Excelente a lauda por demais humana, no que esta palavra tem de nobre, de lavra do professor Odilon Machado (aqui), mas, o problema existe. E não vem dos anos 50. Talvez tenha mais se popularizado ali com a vinheta infame no rádio de Aracaju que dizia: “Olha, eu lhe mato e vou pra Itabaiana”. Como disse, vem de longa data.
Nosso terceiro delegado, Luiz Pereira foi posto no olho da rua porque enrolou a Sua Majestade, D. Afonso VI, tendo sido nomeado pra Itabaiana mas escolhido apenas passear de vez em quando por aqui(*). Cento e oitenta anos depois nosso primeiro Juiz de Direito, Luiz Duarte Pereira, fez a mesma coisinha(**). E olha que por esses tempos havia mais policiais efetivos por aqui do que hoje.
O modus operandi da guerra de gangues aqui segue o mesmo padrão há séculos. Algum importante é lesado e busca o submundo pra resolver. Por usos e costumes, ou por simplesmente desacreditar na Justiça busca a dita com as próprias mãos. Isso faz com que os pactos do banditismo real, perigoso e existente por aqui acabem sendo quebrados. Os termos de ajustamento da bandidagem se resumem ao assassinato. Sem um poder público – Polícia técnica e Justiça - que se imponha à bandidagem bloqueando suas ações, a guerra de gangues, às vezes sob bênçãos de gente poderosa legalmente leva-nos a ter uma média macabra que pra este ano projeta 55 assassinatos por cem mil habitantes.
A violência dita política nada significa diante do estado de gangsterismo em que estamos vivendo sem que o Estado tome qualquer iniciativa pra quebrar essa espiral (ver gráfico acima). Na verdade, serve de fuga; de glamourização. Mesmo quando acontece as violências envolvendo gente envolvida na política não passa de gangsterismo da mesma forma. Nada, portanto, de lamentar a “violência política de Itabaiana”. A violência aqui é violência por falta de comando. Se gente envolvida na política também cobra dívidas eleitorais na base da bala, também o é por falta de comando.
Nossa cidade meu caro professor está em extremo estado de violência, sim; apesar de a culpa não ser, como frisastes, do nosso povo como sociedade de gente batalhadora; e sim da tradicional falta de autoridades ou do exercício pleno destas. E bem o sabeis: quando o gato sai de casa o rato toma conta.

(*) Carta que se escreveo ao Capitão mor de Sergipe del Rey João Munhos para por pessoa de satisfação na companhia da Itabanhana. De 22 de junho (1673), Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, volume 05, p.17. Rio de Janeiro, 1878/4879.
(**) Relatório com que foi entregue a administraçam da Província de Sergipe no dia 15 de agosto de 1860 ao Illm. e Exm. Snr. Doutor Thomaz Alves Junior pelo Doutor Manoel da Cunha Galvão. Typographia Provincial. Sergipe. 1860. Pag03. Col. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.