sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Vivendo perigosamente.

Trabalho que acaba de ser publicado pelo IBGE aponta para graves problemas estruturais nas cidades brasileiras onde, em 90 por cento delas, há problemas ambientais.
O quesito favelização, por exemplo, é o mais preocupante: uma em cada três cidades do país tem favelas, palafitas ou outro tipo sofrível de moradia.
Em Itabaiana, em que pese não termos uma área contínua e considerável de habitações que caracterizem uma favela, a lista de problemas é preocupante. Desde a coleta de lixo aquém das necessidades e com características que merecem cuidados, a assoreamento de córregos, desmatamento abusivo, esgotamento sanitário questionável.
Além do sítio urbano contínuo com algum beneficiamento, mesmo que incompleto, ainda temos formações urbanas na zona rural onde aglomerados vêm se formando sem absolutamente nenhuma estrutura, como é o caso clássico do povoado Mundés(também conhecido como Rio das Pedras) além de Carrilho, Mangabeira, Lagoa do Forno, Gameleira e Cabeça do Russo, entre outros. Nestes povoados não há um só metro de esgoto, muito menos uma lagoa de estabilização e o pior: todos eles estão colocados em nascentes ou a lado de cursos de água que abastecem as represas que nos fornece toda a água que consumimos, seja no consumo doméstico, seja na irrigação. O próprio sítio urbano central, a cidade propriamente dita, está localizada em nascentes que, apesar de secas na maior parte do ano, canalizam água para as ditas represas. A cidade de Itabaiana está assentada num divisor de águas onde parte de seu esgoto corre para a Barragem do Ribeira, da micro-bacia do Vaza-Barris; e a outra parte corre para as barragens Jacarecica I e II, da micro-bacia do rio Sergipe. É como se mijássemos em cima e apanhasse embaixo para beber.

Estatísticas.
A proliferação de problemas, doenças principalmente, em que pese não haver nenhum estudo sobre isso é perceptível só em analisarmos os parcos recursos estatísticos existentes. Em 1987, por exemplo, de cada cem exames coprológicos realizados no laboratório do antigo SESP, 65 apresentou algum tipo de parasito transmitido pela água no todo ou em parte. Em sessenta e dois por cento dos exames foi encontrado amebíase, inclusive do gênero histolytica e em quarenta em oito por cento foi encontrado giardíase, gênero praticamente transmitido pela água contaminada. É interessante lembrar que então a água da represa da Ribeira apenas começava a entrar no sistema e o abastecimento ainda era majoritariamente feito pela primeira represa, bem menor e praticamente descontaminada. Nunca mais esse levantamento foi feito, porém acreditamos que de lá pra cá os problemas não foram resolvidos por osmose; já que de forma concreta também não o foram. Pior: foi reduzida ainda mais a área de matas galerias, item elementar para filtragem do que adentra aos cursos d’água, além do que, como já apontamos, ter havido um enorme crescimento de estruturas semi-urbanas junto aos cursos de água e até em suas nascentes, sem o devido saneamento básico. É problema pra mais de metro, como se diria no popular.

Péssima tradição.
A grande grita popular ao fim dos anos 70 era de que Itabaiana era uma cidade mal cuidada. E era mesmo. O sítio urbano explodiu (já que cresceu sem nenhum planejamento) a partir de 1970, retomando o pique abortado em parte, de 1964 até aquele ano. Rendas municipais deficientes e inabilidades administrativas levaram a cidade a ter em 1988 quase setenta por cento de suas ruas ou outros logradouros sem um paralelepípedo e todos eles sem um metro de esgoto. A comissão do Serviço Federal de Habitação e Urbanismo – SERFHAU, do Ministério do interior assim resumia o aspecto de Itabaiana em 1970: (item 4.1.2, Infra-estrutura Social) “Não há em Itabaiana, qualquer aproveitamento da paisagem, que se apresenta monótona, sem oferecer qualquer atração”. (In Relatório Preliminar de Desenvolvimento Integrado. Op cit. APES, cx. 21, doc.09). No quesito esgoto e demais problemas ambientais, nada diferente do já relatado.
Agora que se avizinha mais uma administração pública do Município é esperar que os problemas resistentes sejam solucionados. Avanços, especialmente depois de 1990, houve muitos. Todavia, muito caminho há ainda a percorrer até que se possa efetivamente vivenciar por aqui uma cidade de alta qualidade de vida.