segunda-feira, 27 de julho de 2009

O armistício.

Durante as duas semanas anteriores foi deflagrada uma operação policial em Itabaiana que, a julgar pelo tamanho das forças exibidas era pra ter prendido pelo menos uns cinquenta bandidos ou arruaceiros, já que o aparato de choque da Força Pública, ao menos em lugar civilizado, ele é agilizado para repor a ordem em distúrbios momentâneos; ou cumprir mandados de busca e apreensão, dados pela Justiça. Tudo bem, foram pegos alguns manés e etc., e tal, mas o que mudou mesmo a história foi a decisiva ação de um policial que nada tinha a ver com a operação em si. Em verdade, o aparato montado pela Secretaria de Segurança Pública nem precisava ter vindo, já que a vingança da sociedade fora feita pelo dito policial; e, ainda na quinta-feira, 16, quando tombou morto o latrocida conhecido por nome de Lombo, que havia ferido de morte Francisco Vilobaldo de Oliveira, o Chico Catagalo, momentos antes. Foi espetacular. Lembrou um outro assassinato duplo ocorrido durante a campanha eleitoral de 1992, quando um idiota errou a mira e acertou um tiro em um pobre coitado, cujo pobre coitado era ligado a uma das facções da política local. Vinte minutos depois o desgraçado idiota jazia estirado aos pés de uma porteira rústica. Limpou-se o sangue; sacudiu-se as penas, achou-se as justificativas e a estatística de 1992, que hoje figura com 20 assassinatos naquele ano, estaria só com 19, não fosse a "bravura" dos vingadores (era preciso mostrar quem manda!). A morte do latrocida de Chico Cantagalo foi suficiente para saciar a vontade de sangue, mesmo que por justiça, dos agentes sociais. Vontade acumulada a cada carreira de aipim roubada e não punida; a cada galinha, boi, carroça, motor ou canalização de irrigação; a cada moto tomada na tora, per saecula saeculorum; a cada vez que um pequeno comerciante se vê com uma arma apontada para si a tomar-lhe o fruto de um ou mais dias, às vezes semanas de paciente trabalho. Depois disso, como diz o João Bosco (De frente pro crime), “calado foi cada um pro seu lado, pensando numa mulher ou num time, olhei o corpo estendido e fechei, minha janela de frente pro crime”.
É mais ou menos como numa preparação à tempestade: o calor insuportável, agônico, por dias a fio; de repente as rajadas de vento com poeira; as primeiras gotas, grossas; o toró caudaloso; por fim a chuva fina, o resfriamento, as andorinhas voando atrás das formigas e cupins de asas... a paz. Até que lenta, e exponencialmente se forme outra tempestade. Quando essa se formar, helicópteros, morteiros, bazucas, fuzis, metralhadoras, foguetes... cruzarão os céus de Itabaiana para impor a ordem. E a TV e os jornais da capital virão para mais uma vez mostrar a “mais violenta cidade de Sergipe”. Tem sido assim desde que João Fernandes Madeira por aqui aportou depois de 13 de outubro de 1663.
Cronicamente por aqui “as Justiças se não fazem”, como dizia Magalhães Paços, ouvidor em 1799. O quadragésimo oitavo município criado no Brasil só conheceu seu primeiro Juiz de Direito em 1849, depois de cento e cinqüenta e um anos de existência, da mesma forma que sua primeira casa para guardar presos que de fato eram “Na da Itabayana são os troncos a segurança do presos, que de mais” precisavam “ser guardados com sentinella a vista”(*), de fato só veio a ser construída em 1919. Ah, o Juiz, Dr. Luiz Duarte Pereira, logo estava de volta pra São Cristóvão, a capital.
Me consta que, o último delegado de Polícia a fincar raiz por aqui de fato foi o bacharel Nivaldo Elias Barbosa que daqui saiu da casa em que morou no Beco dos Lírios (Trav. José Cornélio da Fonseca) em 1981. Os efeitos de sua estadia in loco permaneceriam por mais dois anos: 4 assassinatos em 1979, 2 em 1980, 6 em 1981, 5 em 1982 e 1983, e... 13 em 1984. O último Juiz de Direito que efetivamente aqui residiu é anterior a Jose Anderson Nascimento, que, salvo engano, por aqui esteve até 1977.
E ainda dizem que este é um município violento!
(*)Falla que dirigio a Assembléa Provincial de Sergipe na abertura de sua Sessão ordinário no 1° de março de 1850, o Exm. Snr. Presidente da província, Dr. Amancio João Pereira de Andrade. Sergipe, Typographia Provincial - 1850, no Largo do Palácio. Administrador, J. J. da Silva Braga. p.10.