segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Segunda de carnaval

Em 1979 Itabaiana era só novidades. Telefones pra todo lado; rodoviária nova, asfalto na já principal avenida da cidade... e a rádio Princesa da Serra. Era a segunda do interior, mas a de Estância não contava. Eis que chega o carnaval e o repórter Daniel Barros resolveu fazer a cobertura da festa na cidade. Que inexistia. Naquele ano, sequer houve uma banda na inacabada Associação Atlética de Itabaiana, aliás, sequer o Aruanda Clube passou de uma raifaizinho (Hi-Fi – High Fidelity ou alta fidelidade, uma novidade em som eletrônico da época). E lá vai Daniel. Fez contratos de publicidade com Seu Antonio Fernandes (Casa Fernandes), único representante das tintas Coral, com o ex-prefeito Vicente de Belo (Casa São Vicente), Romeu do foto (Foto Romeu), G. Barbosa (irmãos Gentil e Noel Barbosa), até com Tonho de Chagas (Antonio Francisco de Jesus, Postos e Autopeças Serrano), duro de queda numa propaganda houve contrato, em nome da Churrascaria “O serrano”. Aciona os repórteres auxiliares para dar flashes a cada meia hora, desde as nove da manhã. Inventando blocos que não existiam, bandas tocando que de fato se limitavam aos discos de Claudionor Germano, e no estúdio; à tarde resolveu fazer a média com um dos donos da emissora: José Araújo Tavares, o Zeca Araújo. Zeca, quando queria, falava até pelos cotovelos; quando não lhe interessava era tudo no monossílabo. Daniel se preparou: chegou à loja de Zeca, encaminhou-se ao telefone da loja, chamou o estúdio, mandou botar a chamada, ordenou ao operador de áudio que colocasse o som de contra-regra (música de carnaval e som de gente ao fundo fazendo algazarra) e começou: “estamos aqui em plena Rua General Siqueira onde se encontram muitos foliões em grande alegria neste carnaval que é um dos mais animados na história de Itabaiana, e no meio deles o nosso querido José Araújo Tavares, sócio da Rádio Princesa da Serra, o Zeca Araújo que vai nos dar sua opinião”. E emenda: “Zeca, o que você está achando dessa animação... do carnaval de Itabaiana...?” Silêncio tumular. Zeca pegou o telefone, o pôs de lado com a mão esquerda, olhou para o auxiliar de Daniel, fez um meneio de cabeça, tipo negação, de aproximadamente dois minutos, levou calmamente o telefone para mão direita e daí à boca, e respondeu: “bom!” e devolveu o aparelho a Daniel. Quebrou todo o clima que Daniel havia preparado. E demonstrou de fato como estava sendo o carnaval de 1979 em Itabaiana na sua segunda feira.