quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Ecos.

Poucos dias depois de sua posse, o prefeito aproximou-se de mim, sentou-se numa cadeira ao lado, na mesma mesa, vindo a contar-me de seu sucesso. Tratava-se de ter conseguido emplacar, mediante negociações com a diretoria estadual, um novo chefe na diretoria local da repartição onde ainda hoje trabalho; em verdade o antigo e mais longevo no cargo, e que agora voltava.
- Conseguir recolocar Dr. Milet na chefia.
- Foi? Perguntei. Mais em tom de afirmação do que propriamente de indagação.
- Foi. Ele deve começar em no máximo 15 dias.
O diálogo seguiu com reconhecimentos de parte a parte da capacidade e condições pessoais gerais do re-nomeado até que uma criatura à parte, num desses momentos dos mais infelizes e degradante da raça humana faz a observação:
- Ah! Eu bem sabia. Esse pessoal não perde a boquinha.
Sem palavras. Eu e o prefeito nos levantamos - ele depois de fazer repetidos meneios de cabeça, naturalmente num misto de desaprovação, e decepção com a criatura. Perdemos qualquer graça de continuar o papo e saímos cada um pro seu lado.
Tem gente que não se enxerga, mesmo. Principalmente porque, ofuscado com o brilho alheio, vive em função de atrapalhar os outros ao invés de buscar crescer a si próprio. Condição somente possível de fato com um mínimo de nobreza de espírito.