terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Trágica vida trágica.

Cena tétrica: um homem, talvez “um homem de bem”, desses que lêem a revista semanal se indignando com “esse governo ladrão”; com esse “monte de vagabundos nas cadeias”... essas coisas de piedosos homens de bem, fascista até a medula. Encaminha-se ele para um casal que dorme sob uma marquise ateando-lhe fogo. A câmera de um circuito interno de TV próximo capta a cena tétrica. A mulher morre no hospital. O homem, menos queimado fica internado com queimaduras graves. O Jornal da Globo (Rede Globo de Televisão)mostra a cena e a polícia capixaba promete abrir inquérito. Talvez a notícia tenha passado despercebida na grande Vitória (Espírito Santo) já que a vítima não foi nenhuma lourinha zona sul .

O grupo acerta a “parada”, nome com que a marginália se refere à apropriação do alheio, seja por assalto, seja por furto. Mas aí, a desgraçada da mãe de um morre na véspera (só pode ser uma desgraçada! Onde já se viu, morrer num dia em que vai atrapalhar uma “parada”?). E ai, o membro da gangue resolve que, pelo menos aqui deve parecer que é gente. Enterrar a mãe; chorar ao lado do caixão, acender velas... essas coisas que gente normal costuma fazer. Só que a “desgraçada” da mãe “aquela canço” esqueceu de combinar o dia: não era pra morrer no dito dia. E o “fi’ do canço” do filho dela esqueceu que, em primeiro, a “parada”. Os “amigos”. E aí, “meu”, só há um jeito: mostrar que o “código da Lei” aqui vale. E então, membros da gangue despacham o desgraçado para junto da mãe. Familiares restantes evadem-se; far-se-á mais uma investigação que não dará em nada; os “homens de bem” murmurarão: “foi só mais um bandido. Tinha mesmo é que morrer!” A cidade ganha mais um presunto na sua tétrica galeria anual. A mídia doutras plagas ecoa mais uma vez: Itabaiana é terra de matador!...

“Calado foi cada um pro seu lado. Pensando numa mulher ou num time; olhei o corpo estendido e fechei, minha janela pro crime”. (*)


E continuamos com “a cidade onde mais se mata bandido”. Graaaande troféu!

(*) De frente pro crime. João Bosco e Aldir Blanc