terça-feira, 3 de novembro de 2009

O piso salarial dos professores de Itabaiana e meu pai.

Meu pai, primeiro professor na Mangabeira (*) foi ali também o primeiro e único delegado, entre 1947 a 1950. Em 1949 já não era mais o professor, pois fora construída a “Escola Rural” e havia chegado uma professorinha novinha em folha, com curso na Escola Normal, em Aracaju.
Como delegado foi apaziguador, às vezes tendo que ameaçar – só em uma vez prendeu a um sujeito futucador de partes íntimas de moças de bem – e negociar intermediações entre os sujeitos e a Lei, de forma que esta fosse respeitada sem a necessidade do uso da força. A Ribeira, segundo maior centro comercial no município de Itabaiana e até em toda a região tinha um delegado “de carreira”, um major da Polícia. Chega meu pai um certo dia na feira e já estava armada uma confusão: um cidadão da Mangueira, jurisdição de meu pai fora preso pelo major sob alegação de baderna. O citado era zoadento, falava alto, e brincalhão. O major resolveu impor a sua ordem e acabou por praticar um ato de exorbitância da autoridade. Meu pai foi resolver porque, além de conhecer o cidadão e toda a sua família de até duas gerações atrás, o mesmo tinha domicílio em seu território. Não teve dúvida: era justiça soltar o sujeito. Argumentou com o policial e não teve jeito. Eis que chega Manuel Teles, chefe político, de quem meu pai era aliado e pelo qual havia ganho o posto que não vencia soldo. Trabalhava de graça. O chefe político ouviu as duas partes e decidiu que o cidadão preso deveria ser solto imediatamente. Com a resistência do policial o chefe político ameaçou-o de punição e, fugindo da real e justa situação, que seria fazer justiça a um preso inocente, em complemento às ameaças ao policial disse: “Major Temístocles, o seu tá garantido; o meu eu tenho que correr atrás de quatro em quatro anos. Solte o homem!”
O major soltou o prisioneiro, não por ter sido preso injustamente; mas porque Manuel Teles precisava garantir o dele de quatro em quatro anos.
Sobre a lógica da administração municipal (todas, viu?) em relação aos professores: tem menino na escola; tem professor ensinando, merendeira, e ajudantes vários nas escolas não é porque pobre precisa estudar pra sonhar e se capacitar para um mundo melhor. Elevar-se a si e ao próprio lugar, como ocorreu a Itabaiana nas décadas de sessenta e setenta(**). Da mesma forma, tem gente demais lotada na educação - repartindo um bolo que já é pequeno para quem trabalha - não é pelos usuários; os alunos! É que diferentemente de 1949, agora tem eleição a cada dois anos.

(*) Aprendeu "a ler, escrever e contar" com uma sua tia, professora primária no povoado Urubutinga, Lagarto, naturalmente sem concluir o primário.
(**)Até 1980 o perfil da violência em Itabaiana era por rixas pessoais, nalguns casos por motivos partidários. Nos anos 80 gestamos o serpentário e a partir de 1990 as gangues, seus carrões e outros símbolos de riqueza (fácil e questionável) invadiram a cidade e de vez em quando tem campanha de desova; de limpeza, queima de arquivo; limpeza de "unidades com defeito", vencidas (mais de trinta anos); ameaçadoras. Às vezes até aparece por aqui o "controle de qualidade"; o controle dos excessos de atividades, por autoridades que dão o ar da graça de vez em quando.